29 novembro 2008

BICICULTURA: Conferência Internacional de Mobilidade por Bicicleta


Estive em Brasília nos dias 13 a 16 de novembro para participar da Bicicultura. Fui convidado pelo Yuriê para fazer uma Palestra sobre Cicloturismo. Nem precisa dizer que para mim foi excelente. Tive oportunidade de mostrar um pouco daquilo que a bicicleta é capaz de fazer. Também serviu para mostrar que não existe idade para fazer cicloturismo. Basta ter disposição e vontade de conhecer as coisas lindas que a natureza nos oferece.


A minha palestra foi no dia 14. Tive o privilégio de estar ao lado da Eliana e Rodrigo – Clube de Cicloturismo e Eldon Jung – Vale Europeu.


Segue parte da programação do dia 14/11/08


CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DE MOBILIDADE POR BICICLETA

Tema: Promoção e incentivo para o uso da Bicicleta
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16h Cicloativismo e Mídia

Participantes: Renata Falzoni – ESPN Brasil

16h20 Cicloturismo

Participantes: Eliana e Rodrigo – Clube de Cicloturismo

Eldon Jung – Vale Europeu

Valdo Vieira – Cicloturista

17h Debate
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07 novembro 2008

O nascimento do Bebê

Ontem, dia 6 de novembro, o Nelson, responsável pelo setor de fotolitos e impressão colocou na minha frente a primeira folha que tinha acabado de sair da impressora off set. Veio por trás da cadeira, colocou a folha aberta diante de mim e disse:

- O bebê está nascendo!
- Foi um parto muito difícil, respondi eu.

Já não sei se me alegro ou se me entristeço. Já se passaram quinze meses desde o início do pedido da verba para imprimir os livros. Já se passaram dois meses desde que recebi a verba. Quanto tempo vou ter que esperar ainda para ver os livros prontos? E depois, quanto tempo vou levar para vende-los para conseguir o dinheiro para iniciara a viagem?

A Mariza diz que é para eu me agarrar com São Jorge para ele afastar as preocupações e tristezas. “A Preocupação olha em volta, a Tristeza olha para trás, a Fé olha para cima”. Mas o que eu preciso mesmo é de muita paciência.

Hoje aprendi mais uma lição que eu já deveria saber a muito tempo: Uma gráfica é diferente de uma editora. Parece óbvio? Mais ou menos. Quando pedi as cotações em várias gráficas apenas uma delas me disse que só aceitaria imprimir os livros se eu levasse o trabalho “fechado”. Eles não faziam a diagramação. As demais não me falaram nisso. Das seis consultadas, apenas uma exigia o trabalho pronto. Só depois de duas semanas de sofrimento, foi que descobri que se eu quisesse que o livro fosse impresso eu teria que assumir a correção, a revisão e a diagramação. Em resumo, teria que entregar o trabalho pronto para ser feito o fotolito. Graças a Deus consegui a ajuda de dois funcionários da própria gráfica pra fazer a revisão. Agora posso dizer que o livro vai sair como eu queria que ele saísse: bonito e sem erros. Será? Vocês só vão saber depois de adquirir um para ler.

Aos vários amigos e amigas que me fizeram o pedido, peço apenas mais um pouquinho de paciência. Dentro de alguns dias estarei enviando os livros. Antes, porém vamos fazer o lançamento na Casa Turnes.

23 outubro 2008

Jogo de vai-vem

Enquanto espero para iniciar a pedalada ao redor do mundo, continuo a acender o sonho de muitos colegas cicloturistas, ou futuros cicloturistas. Três companheiros alimentaram a minha fantasia, mas cada um por motivos diferentes, desistiram ou tiveram que desistir. Agora apareceu mais um jovem sonhador. Menos de trinta anos, solteiro, desimpedido, ciclista, maratonista, artista, bombeiro voluntário e tocador de gaitinha de boca. Ele já tem o dinheiro suficiente para pedalar durante 11 meses e fazer comigo a travessia das Américas. A meta é chegar até o Canadá, mas pode ser mais ou menos, dependendo dos atrativos que encontrarmos pelo caminho.
Como ainda temos que acertar alguns detalhes, vou deixar para divulgar o perfil do amigo mais para frente. Por enquanto vou sonhando com esta companhia. Quem sabe desta vez vai dar certo...

01 outubro 2008

Fiquei Sozinho outra vez

Parece que estou destinado a viajar sozinho mesmo.

O meu companheiro de Floripa, cujo nome eu ainda não tinha revelado, acabou de desistir da viagem. Motivos pessoais de saúde, medo por parte da mãe e da namorada, incerteza, etc.

É o terceiro que fica pelo caminho antes mesmo de começar.  Veio-me à mente a frase que escrevi na minha primeira viagem no site Do Oiapoque ao Chui:

 "As pessoas que raciocinam muito antes de dar um passo viverão suas vidas sobre uma perna só".

 Realmente o projeto não é fácil. Passa muita coisa peal cabeça da gente. O preparo físico é importante, mas o emocional é ainda mais complicado. Quem já enfrentou a estrada por mais de dois meses sabe bem do que eu estou falando.

 Apareceu mais um amigo que quer me acompanhar por um pouco, mas é bem pouco mesmo. Somente no Estado do RS até Quaraí. Já é alguma coisa, mas ainda depende de ele conseguir as férias para o período que eu vou viajar.

E os livros? Bem este é outro capítulo da novela. Tive que mudar de gráfica e ainda estou a espera do orçamento. Como a verba é pequena tenho que fazer muito com pouco dinheiro. Estão fazendo a diagramação para me dar o orçamento. a promessa é para a próxima semana.  Haja paciência para esperar...

Preparei uma lista de e-mail para avisar quando o diário de bordo for atualizado. Enviei um convite pata todos os amigos e amigas da minha lista. Até agora apenas 8% aceitaram o convite. Alguns tiveram dificuldades e outros não completaram o cadastro. Não se trata de mais uma lista de discussão, mas apenas um mailing list. Se você quiser ser informado toda vez que eu atualizar o meu Diário de Bordo, por favor efetue o seu cadastro na lista.

Um cicloabraço a todos

Valdo

17 setembro 2008

Boas Notícias

É com alegria que anuncio a todos que os meus livros estão sendo impressos na Gráfica Manchester. Dentro de algumas semanas já estarei com eles prontos para serem vendidos. Nesta edição as fotos são coloridas.

Se alguém quiser me ajudar a vender alguns exemplares, basta entrar em contato comigo.

Dependo desta venda para iniciar a viagem em janeiro de 2009. Agora já estou na contagem regressiva.

Outra boa notícia é que vou fazer os primeiros seis meses na companhia de um amigo de Floripa. Por enquanto não posso revelar o nome dele porque ele ainda não avisou a mãe e a namorada. Isto deve acontecer em breve e então vamos divulgar a foto dele também. Só posso dizer que ele está muito animado e eu muito feliz pela companhia.

Como vamos iniciar a pedalada pelas Américas, ele provavelmente vai chegar ao México ou até a terra do Tio Sam. Não importa até onde ele vai, o importante é pedalar 180 dias vencendo as Cordilheiras e as Florestas tropicais.

Já estou na contagem regressiva e hoje, dia 17/09/08 faltam apenas 119 dias para a tão sonhada partida. Já não aguento mais esperar. Estou louco para Pedalar pela Paz.

02 setembro 2008

Batismo da Cruzbike

Batismo da Cruzbike

Quero agradecer a todos os amigos e amigas que participaram da enquete para escolher o nome da minha Cruzbike. Baseando-me no resultado da pesquisa e acolhendo algumas sugestões enviadas em particular, fiquei com dois nomes para decidir:

GUERREIRA ou TANAJURA

A decisão não é fácil, pois os dois nomes são significativos. Alguém comentou e com razão que a tanajura por si só já uma guerreira. Num primeiro momento eu tinha pensado em um nome composto = Tanajura Guerreira, mas seria uma redundância.

Vou aguardar a entrega da carenagem que virá com uma tampa nova e com cadeado e então a foto já vai aparecer com o nome. Guerreira? Tanajura? Vamos ver.

22 agosto 2008

Soltando a imaginação

Enquanto espero pela nova versão da minha carenagem, vou soltando a imaginação através da lente da minha câmara digital. Que tal, gostou?! A foto é original sem retoques.


15 agosto 2008

Cruzbike = Sauva?

Só para imortalizar o post do Marcos Guazzelli




Marcos Guazzelli:

Parabens ao Valdo e ao comprometimento do pessoal da CSM. Mas, eu não poderia deixar de dar uma opinião ao nome da Cruz Bike, se me permite, sugiro o nome de SAUVA (rsrsrs), pois assim como vc elas são persistentes e carregam uma grande quantidade de carga. Olhando aqui da pra ter uma idéia. http://pt.wikipedia.org/wiki/Imagem:Leaf-cutting_ant.jpg

Aquele abraço Valdo.



12 agosto 2008

A Carenagem da Cruzbike está pronta

Graças ao amor e dedicação do Sr. Silvestre da CSM REFRIGERAÇOES, retirei hoje a tão conhada Careangem para a minha Cruzbike. Agora talvez fique mais fácil optar por um nome para ela.
Posso dizer que ficou uma obra de arte.

Parabéns Silvestre.

Este trabalho só foi possível porque foi feito com o coração. A CSM aceitou o desafio de fazer algo novo, partindo do zero. Foram vários meses desde o início até a cocnclusão. A primeira vesão recebeu várias camadas de fibra de vidro e quando ficou pronta pesava nada menos que 10 quilos. A versão final não chegou a três quilos. Agora só falta fazer uma viagem de teste para ver como ela se comporta.

Seguem algumas fotos.

Sr. Silvestre, o "Pai da criança"

Sr. Silvestre e a irmã Sra. Maria na frente da Empresa.





10 agosto 2008

Jaine - Imaginação Fértil

Recebi esta mensagem da Professora Mariza Schiochet com um desenho em anexo. Veja o texto da mensasgem;

Enquanto conversava sobre a sua aventura na sala de aula a aluna Jaine do 1 ano 11 ensino médio, desenhou imaginando como você era, segue anexo o desenho


31 julho 2008

4º Teste da Cruzbike = 771 km

4º Teste da Cruzbike = 771 km

Total pedalado na Cruzbike = 6.177 km

Aparados da Serra – Serra do Rio do Rastro – Serra da Rocinha - Serra do Tabuleiro
Um Roteiro só para os mais fortes!
16/07/2008 a 27/07/2008






Exibir mapa ampliado


Há anos que eu tinha vontade de fazer este roteiro, mas no sentido inverso, isto é saindo de Joinville e chegando até Gramado. Era este o roteiro inicial da Volta ao Mundo que deveria ter iniciado em 2007. Tantas coisas aconteceram desde então que acabei modificando a rota inicial e por isso resolvi fazê-la agora no sentido inverso. Ônibus de Joinville a Gramado e retorno de bicicleta.
O meu primeiro companheiro de viagem era o Victor, de 16 anos que por motivos óbvios não pode realizar a viagem. Há três dias da partida, encontrei outro jovem de 18 anos, Lucas Schiochet que se viu atraído pelo Rapel e aceitou o desafio. Foi tudo muito rápido. Conheci o Lucas no domingo a tarde e na terça a noite já estávamos no ônibus rumo a Gramado. Os pais, Valdecir e Mariza nem tiveram tempo de se preocupar. Tudo foi muito rápido. A bicicleta que o Lucas ia usar era uma full suspension com três anos de idade e ainda com os pneus, corrente e relação original. Faltava um bagageiro, mas foi logo resolvido com a transposição de um de ferro da bicicleta do Valdecir. Foi parafusado na roda e no canote do selim e pronto. Somente em Nova Petrópolis nos demos conta de que não era possível acoplar o bagageiro no canote do selim de uma full. E o alforje? Bem, este eu peguei emprestado do Giorgio. Quando a Mariza fez a pergunta crucial: - Quanto vocês vão gastar nesta viagem? A resposta foi imediata. Cem reais cada um e mais trinta para as Termas de Gravatal. Só isso?, ela perguntou. Só. Disse eu. No final da viagem, na hora do acerto de contas, tínhamos gastado apenas R$ 108,00 cada um.
Para saber como é possível fazer uma aventura de 12 dias com tão pouco dinheiro, leia o relato a seguir.

A partida 15/07/2008

Fui pedalando até a Rodoviária onde preparei a bicicleta na mala bike e fiquei a esepra do Lucas que chegou meia hora antes da partida do ônibus. Ele foi de carro com a bike já embalada. Deixamos a cidade às 19:15 e chegamos em Gramado no dia 17 às 7:30h. Fomos recebidos na rodoviária pelo Leonardo Esch com um largo sorriso. Párea nossa surpresa ele estava de carro. A bagagem foi no porta male e as bikes em cima do carro.

A casa do Leonardo fica a 9 km de Nova Petrópolis num recanto encantador. Tivemos uma acolohida VIP pro parte dos pais do Leonardo o Sr. Egon e Dona Sonja.


Montando as bicicletas na casa do Leonardo

Montamos as bicicletas e, como sempre, a cruzbike fez logo sucesso. O Leonardo pedalou nela e o Sr. Egon e Dona Sonja sentaram na “queridinha” como dizia dona Sonja.

Dona Sonja testando a Cruzbike

O Sr Egon nos ofereceu um almoço num restaurante em Nova Petrópolis. Fomos pedalando até o centro e a cruzbike de novo fez sucesso. Todos queria admirar aquela coisa rara, nunca vista antes. O Leonardo comentou que seria interessante ter uma filmadora só para filmar a cara de espanto das pessoas.


Magnólia na casa do Sr. Egon e dona Sonja

Na parte da tarde, depois de conhecer a cachoeira do Panelão, veio o Rapel, tão esperado por mim e pelo Lucas. Nós estávamos bastante apreensivos. Nenhum dos dois conhecia esta aventura. Ao chegarmos ao topo da cachoeira sentimos um frio na barriga só em olhar para baixo. Depois das devidas instruções ministradas pelo Leonardo de como usar o mosquetão e a corda e dos cuidados que é preciso ter ao descer, o Lucas se candidatou a ser o segundo a descer. O Leonardo foi primeiro para segurar a corda lá em baixo, por medida de segurança. Ao chegar a minha vez de descer, eu olhei para mim mesmo e me perguntei:

- O que é que um velho de 64 anos vai fazer pendurado numa corda? Mas o espírito era de um jovem de 20 anos. Se o Lucas com apenas 18 anos podia descer, eu, com “20” também poderia fazer o mesmo. E lá fui eu cheio de coragem. Bastou dar alguns passos para trás, para sentir o gostinho da aventura. Foi tão divertido, tão fácil e tão maravilhoso que repetimos a dose duas vezes. É preciso participar da aventura para se conhecer os próprios limites. Para nós dois foi tão bonita a experiência que se a nossa aventura tivesse terminado ali nós já estávamos satisfeitos.
À noite o Sr. Egon preparou um delicioso churrasco e a dona Sonja exagerou na sobremesa.

Valdo, Egon, Lucas e Leonardo

A noite foi muito curta. Bicicleta para arrumar. - O Lucas teve que modificar a posição do bagageiro para libertar do cano do selim. Fez uma gambiarra que ficou mais ou menos e conseguiu chegar até a casa do Marcos em São José dos Ausentes onde o Sr. Chico ajudou a criar uma nova gambiarra bem mais resistente que aprovou durante o resto da viagem. – fotos do Leo para a gente ver e no final ainda tinha um filme sobre a volta ao mundo de um francês. Como eu estava assistindo o filme deitado, fui vencido pelo sono e acordei quando o Leonardo estava desligando a TV.



17/07/2008
Nova Petrópolis – São Francisco de Paulo
72 km com velocidade média de 13,53 km/h

Acordamos às 6 horas e saímos às 7:40h. A primeira etapa era Gramado, só que para chegar lá tivemos que enfrentar grandes subidas. Era uma pequena amostra do que íamos enfrentar pela frente. Para o Lucas já foi o primeiro teste. Fomos ao Supermercado comprar comida para a viagem. Fizemos um lanche e nos preparamos para seguir viagem. Saímos de Gramado ao meio dia e seguimos para Canela onde visitamos a linda Igreja. Num momento fui transportado em espírito para Europa onde morei durante sete anos. O estilo das casas germânicas, as ruas muito limpas e bem cuidadas; as árvores sem folhas; a simplicidade das pessoas a caminhar pela rua. Tudo isto me fazia viajar. Era grande a alegria que eu sentia por dentro.
A dois quilômetros de Canela uma pedra afiada conseguir se alojar por baixo do Mister Tuff e furou o meu pneu. Troquei a câmara e ao montar a roda apareceu outro problema. O eixo que transporta a carretinha não se encaixava bem no quadro. Por ser um quadro de dimensão mais reduzida o eixo ficou maior. A arruela que euusava era de alumínio e tinha se gastado. Depois de muitas tentativas frustradas, o Leonardo que nos acompanhava até então, teve a idéia de procurar uma oficina e cortar um centímetro do eixo. Como ele estava sem bagagem voltou a Canela e serrou o eixo. Resolvemos o problema, mas agora não vou poder usar este mesmo eixo nas outras bikes. Nesta manobra gastamos quase duas horas de tempo e tivemos que mudar os nossos planos. Já não era possível chegar a Tainha para pernoitar. Paramos em São Francisco de Paula e fomos muito bem acolhidos com direito a participar do jantar com eles e comer um delicioso arroz carreteiro.

O Lucas fez sua primeira experiência de cicloturista pedalando 72 km nas serras gaúchas. Chegou bastante cansado mas mesmo assim inteiro. Acho que ele não teria conseguido fazer os 105 km previsto para esta jornada. Há males que vêm para o bem.

18/07/2008
São Francisco de Paula – Cambará do Sul
77 km com velocidade média de 14,28 km/h

Uma noite bem dormida num excelente colchão. O Lucas foi para o beliche e reclamou que o colchão tinha galhos de árvores dentro dele. Será?! Resolvemos levantar mais tarde pois queríamos levar a bicicleta do Lucas ao mecânico para fazer a regulagem do câmbio dianteiro. Deixamos o acampamento nos Bombeiros às 8:50h.



Os bombeiros foram muito gentis conosco. Ficamos sabendo que por ali já tinha passado muitos cicloturistas de todas as espécies. Desde os mais desengonçados até os mais organizados como o Daisuke, um japonês que está fazendo a volta ao mundo durante vários anos. Elogiaram a nossa organização e ficaram muito admirados ao ver as fotos da Cruzbike no Uruguai, Argentina e no Nordeste brasileiro.

Fomos à oficina mas o mecânico tinha acabado de sair e ia demorar para voltar. Procuramos outra oficina mas o mecânico disse que estava muito ocupado e não podia atender. Tratava-se apenas de uma simples regulagem de marchar, mas o infeliz nem quis saber do que se tratava. Voltamos à primeira oficina para esperar pelo mecânico. Ao lá chegar soubemos que ele já tinha voltado e saído de novo. O jeito foi o Lucas aprender a regular a marcha. Foimeio desajeitado, mas no final até que deu certo. Iniciamos a viagem depois das 10 horas.


Amanhecer no Camping Corucacas

A distância a ser percorrida era relativamente pequena. Pouco mais de 70 km mas a estrada era muito acidentada. Uma seqüência interminável de subidas e descidas. Para o Lucas foi bastante cansativo. Por falta de opção melhor acampamos no Camping da Pousada Corucacas na Fazenda Baio Ruano. O lugar era muito bonito e ficava bem perto da cidade. Pagamos duas noites a sete reais por pessoa.

Será que o Lucas está mesmo cansado?


19/07/2008
Canyon Fortaleza
50 km com velocidade média de 10,10 km/h


\levantamos ás 6:30h com a lua cheia se escondendo por detrás dos pinheiros. A meta era conhecer os Canyons Fortaleza e Itaimbezinho. O Canyon Fortaleza dista 22 km de Cambará do Sul e o Itaimbezinho 18 km. Somamos as distâncias e decidimos fazer os dois. Começamos pelo mais distante. Iniciamos a pedalada às 8:20h mas não tínhamos idéia de como seria a estrada. Os primeiros três quilômetros foram de asfalto e muita subida. Depois pegamos uma estrada bastante complicada, com muitas pedras e subidas enormes. Mesmo com as bicicletas sem carga era quase impossível pedalar. Nas subidas, empurrávamos a bicicleta e nas descidas, tínhamos que frear para desviar dos buracos e as pedras soltas. Duvido que exista no Brasil uma estrada pior do que esta.

Chegamos ao Canyon às 11:30h e logo dissemos adeus ao Itaimbezinho. Se a dificuldade para chegar lá foi grande, maior foi a alegria ao contemplar a obra monumental feita pela natureza. O Canyon ?Fortaleza impressiona pela sua grandiosidade. São quase mil metros de profundidade. Cada ângulo que se escolhe é mais bonito que o outro. Fizemos duas trilhas. A primeira com as bicicletas e a segunda, depois de algumas centenas de metros escondemos as bicicletas no mato e seguimos a pé até o topo da montanha. Um passeio inesquecível. O céu estava limpo e as nuvens só apareceram depois de duas horas para invadir o vale.


Iniciamos a viagem de volta e esta pareceu ainda mais difícil. A bicicleta do Lucas apresentou problemas nos freios traseiros e na corrente que estava torta. Ele ainda não sabia fazer a mudança das marchas e pedalava com a corrente enviesada. Ao chegarmos à cidade fomos a uma oficina de bicicleta. Para nossa sorte, mesmo sendo sábado a tarde, ainda estava aberta. O mecânico Cleo fui muito gentil. Arrumou uma corrente usada para substituir a que estava torta. Mas como não tinha chave de corrente usou o martelo. O Lucas pedalou 50 metros e a corrente arrebentou. Voltou à oficina e mais marteladas na corrente. Conseguimos chegar com ela até São José dos Ausentes... O freio traseiro estava quebrado e como ele não tinha um novo, tirou os freios de uma bicicleta que estava ali para ser consertada. Na segunda ia comprar um par novo. O Lucas pagou o preço de um novo, mas pelo menos resolveu o problema. Quando deixamos a oficina já era escuro.


Enquanto o Lucas consertava a bicicleta, o vizinho,dono de uma oficina mecânica me convidou para tomar um vinho e comer um pouco de carne com pão. Eles tinham feito uma comemoração ali. Estava muito admirado com a nossa aventura.

Ao chegarmos ao Camping encontramos o pessoal da Cavalgada que tinha feito uma viagem de uma semana desde Bom Jardim da Serra. Eram 150 cavaleiros e algumas amazonas que tinham feito a travessia. Era um pessoal animado com música e muita comida. A noite estava bastante fria e logo depois da janta caímos na barraca para nos aquecer no saco de dormir.


20/07/2008
Cambará do Sul – São José dos Ausentes
65 km com velocidade média de 8,51 km/h


Deixamos o camping às 7:20h. Sabíamos que tínhamos uma longa jornada pela frente mas não fazíamos idéia do grau de dificuldades que iríamos enfrentar. Pelas informações dos caminhoneiros os primeiros 25 quilômetros seria bem difíceis. Mas quando enfrentamos a estrada a coisa mudou. A estrada parecia o leito de um rio seco. Pedras e mais pedras sem barro entre elas. Muitas delas soltas. Enfrentamos duas grandes serras. Subíamos empurrando a bicicleta e descíamos a uma velocidade de 8 a 10 km/h. O treme treme era tanto que o Lucas ficou com os braços doloridos. E eu que tinha pensado que a estrada para o Canyon Fortaleza era a pior de todas... Na estrada para o Canyon Fortaleza a nossa média foi de 10,10 km/h e nesta outra só chegou a 8,5 km/h. Mesmo assim o trajeto foi interessante. Serviu para fazer o teste da Cruzbike nas montanhas e em estradas com alto grau de dificuldades.


Tínhamos combinado com o Marcos que chegaríamos no Vale das Trutas entre as 13 e 14 horas. Chegamos às 13:35h. Que alegria. Tomamos um refrigerante e seguimos na companhia do Marcos para a fazendo do Sr. Chico, pai do Marcos. Mais uma surpresa nos esperava. Eram 12 km até São José dos Ausentes com bastante subida e depois mais 8 km numa estrada secundária, sendo os últimos três dentro da fazenda da família. Quatro travessia de riacho sendo que eu me desequilibrei no último e meti os pés na água. Chegamos por trás da fazenda para encurtar caminho e tivemos que atravessar a bicicleta com toda a tralha por cima de uma cerca alta. Já era noite quando atravessamos a cerca e chegamos no pátio da fazenda. Se a jornada foi longa e difícil, a acolhida foi excelente e calorosa. Fomos recebidos pela dona Elizabet, mãe do Marcos e em seguida fomos apresentados ao Seu Chico, pai do Marcos que ordenhava as vacas na vacaria. Outras pessoas nos aguardavam na fazenda. A Natália, irmã do Marcos; o Gabriel, de 10 anos, filho do Marcos; a cunhada dele Rosana e o filho Augusto e também a Larissa, sobrinha da Rosana.

Um banho restaurador e a seguir um lauto jantar regado a vinho. Como tínhamos chegado a noite e estávamos bastante cansados, decidimos permanecer mais um para conhecer a fazenda e descansar., embora o Marcos tivesse que regressar no dia seguinte, segunda-feira para voltar a trabalhar na terça. E foi assim que dormimos até as nove horas da manhã.


21/07/2008
Descanso na Fazenda Guazzelli



Fomos agraciados com um delicioso café colonial preparado com muito carinho e esmero pela dona Elizabet. Uma rápida visita de reconhecimento do local e fomos lavar as bicicletas para remover a lama. O pessoal aproveitou para matar a curiosidade e pedalou na Cruzbike.

Seu Chico fazendo Queijo

Após o almoço o Marcos voltou para Caxias. Nós aproveitamos para consertar o bagageiro do Lucas. Com a ajuda do Seu Chico que é muito engenhoso, fizemos uma bela gambiarra. Como o Lucas estava com problemas com a corrente, o Marcos deixou o extrator de corrente com ele. No domingo quando entramos na fazenda a corrente do Lucas arrebentou. Se não fosse o extrator de corrente do Marcos nós teríamos tido que empurrar a bicicleta por vários quilômetros. Mesmo depois do conserto, a corrente que o mecânico tinha vendido para o Lucas voltou a arrebentar. O Marcos recolocou a corrente velha e foi com esta que conseguimos chegar até Orleans em Santa Catarina.

Marcos e Rosana testando a Cruzbike



22/07/2008
São José dos Ausentes RS – São Joaquim SC
32 km com velocidade média de 9,96 km/h

Gambiarra no bagageiro do Lucas

O Seu Chico gentilmente nos ofereceu carona até São José dos Ausentes. Ficamos contentes pois assim evitaríamos os oito quilômetros difíceis com as travessias dos riachos. Combinamos levantar ás 6:30h para sair às oito horas, depois que o Seu Chico terminasse de ordenhar as vacas.

Valdo e Seu Chico em São José dos Ausentes

Infelizmente começou a chover de madrugada e não parou mais. Deixamos a fazenda debaixo de forte chuva que nos acompanhou durante os 20 km até São José dos Ausentes pela estrada principal. Paramos num posto de gasolina e tentamos conseguir uma carona até São Joaquim. Depois de várias tentativas frustradas, preparamos um chá de camomila acompanhado de pão de forma e decidimos enfrentar a chuva. Para o Lucas ia ser a primeira experiência de pedalar na chuva. Comprou um chinelo de dedo, vestiu uma capa de chuva descartável que eu levava e com um isto de alegria e temor, nos dispusemos a iniciar mais uma etapa da aventura. As onze horas a chuva aliviou um pouco. Começamos a pedalar e para nossa sorte, depois de mia hora, a chuva parou e o sol apareceu. Serviu de estímulo para a nossa difícil jornada que estava apenas começando. A estrada era boa, mas havia muita subida e em alguns trechos muita lama. Levamos duas horas para percorrer os 20 quilômetros que separam São José dos Ausentes de Silveira onde pensávamos que seria fácil conseguir uma carona. Quando lá chegamos fomos informados de que ali seria difícil conseguir carona pois passam poucos carros por ali. Teríamos que pedalar mais 20 km para chegar em Santa Catarina onde teríamos mais chance de consegui a carona. Na verdade nós queríamos chegar ali para passar a noite. As fortes subidas iam minando as forças aos poucos. A carretinha fica bastante pesada na subida e é preciso fazer bastante força nos braços. Espero resolver este problema com a carenagem que já deverá estar pronta no meu regresso a Joinville.

Foi no topo de uma grande subida, enquanto empurrávamos a bicicleta que o Lucas levantou o dedo polegar no sentido de pedir carona e a caminhonete parou. Era um lindo carro de cabine dupla, dirigida pelo Sr. Élson que nos ajudou a colocar as bicicletas na carroceria. Os quarenta quilômetros até São Joaquim foram vencidos rapidamente pelo carro tracionado que de vem em quando dançava na pista enlameada. Do alto da montanha contemplamos um panorama deslumbrante. A seguir 20 km de descida até chegar ao rio Pelotas na divisa de estados. O rio estava no leito normal e por isso passamos a ponte sem problemas. Quando chove na cabeceira do rio a água passa por cima da ponte e os carros tem que esperar algumas horas até conseguir fazer a travessia.


Em São Joaquim descemos no centro e pedalamos um pouco para conhecer a cidade. Depois seguimos até os Bombeiros. Como em São Francisco de Paula, também em São Joaquim a recepção foi excelente. Literalmente colocaram a casa à nossa disposição e nos serviram um delicioso jantar. Valeu!

23/07/2008
São Joaquim – Orleans
94 km com velocidade média de 14,58 km/h


Deixamos os Bombeiros às 7 horas depois de uma noite bem dormida. A meta era pedalar 130 km e chegar a Gravatal. Tivemos problemas com a corrente do Lucas e acampamos num posto de gasolina em Orleans. A corrente do Lucas arrebentou duas vezes e como se isso não bastasse, ele conseguiu, não sei como, dar dois nós na corrente. Só conseguiu desfazer os nós tirando o pino da corrente. Chegamos em Lauro Muller e trocamos a corrente.


A primeira etapa desta viagem de São Joaquim até o mirante foi muito difícil. Foram 55 km de muitas subidas. O Lucas chegou ao mirante no limite das forças. Foram necessários 45 minutos para ele se restabelecer de novo.


Na primeira parte da viagem enfrentamos uma forte neblina mas à medida em que nos aproximávamos do mirante o sol começava a aparecer até chegarmos a um céu totalmente azul. Foi bom para batermos as fotos e fazer a descida sem problemas. Iniciamos a tão sonhada descida ás 14 horas com muita calma. A velocidade máxima não passou dos 30 km/h. Era preciso curtir o visual. Paramos em todos os mirantes que existem na serra. Valeu tanto esforço para chegar até ali.


Esta foi a quarta vez que passei pela Serra do Rio do Rastro e foi sem dúvida a mais emocionante de todas. Mais um sonho realizado.


Ex-padre pedala 400 quilômetros até Termas do Gravatal

Conhecer todo o Brasil e os países da América do Sul em uma bicicleta. Esta é a missão do ex-padre missionário, Valdecir João Vieira, o Valdo, 64 anos, que desde 2003 já percorreu cerca de 30 mil quilômetros sobre uma bicicleta. Na passagem por Braço do Norte, concedeu uma entrevista à Folha do Vale.
Há cinco dias pedalando ao lado do amigo 46 anos mais novo, Lucas, 18 anos, ele percorreu mais de 400 quilômetros e gastaram em torno de R$ 150, desde Petrópolis (RS) até Braço do Norte.
Na noite de quinta para sexta-feira, os amigos passaram a noite em Termas de Gravatal. “Essa é a nossa última parada, agora só paramos para dormir e depois só em casa, já que temos cerca de 400 quilômetros para percorrer de volta”, conta Valdo.
Natural de Joinvile, bacharel em teologia e administração empresarial pela Universidade de Roma (Itália), o cicloturista, passou dez anos de sua vida realizando missão em Moçambique, na África, em meio a uma guerra civil sem fim, encarando diversas adversidades, tentando aliviar a vida daqueles que não tinham acesso à comida e saúde. “Em missão, na Alemanha, entregávamos alimentos às famílias mais necessitadas, priorizando crianças e idosos. Cheguei a fazer 18 enterros num dia, pessoas mortas por tiros ou decapitadas. Tínhamos que nos esconder para não morrer também. Agora vivo livre, em contato com a natureza”, explica Valdo.
Envolvido em uma profunda depressão, o ex-padre resolveu combater os seus dramas e traumas de forma diferente, sem médicos saiu percorrendo a pé pelas rodovias de todo país, para em seguida adotar a bicicleta como fiel companheira. “Confesso que este foi o melhor remédio para as minhas angústias, passei a conhecer pessoas diferentes, a enxergar o mundo de outra forma, encontrando o equilíbrio necessário para minha vida. Aconselho a todos realizarem uma aventura desta, pelo menos uma vez na vida, os seus conceitos mudam”, recomenda.
A primeira grande viajem de bicicleta feita por Valdo foi a aventura do Oiapoque ao Chuí, onde começa e termina o país, em viajem realizada em duas fases: a primeira percorrida em 4.071 quilômetros, no período de 13 de maio a 18 de julho de 2003. “Se você for jovem como eu, beirando os 65 anos, e quiser fazer uma aventura de bicicleta, o melhor que tem a fazer é preparar-se em silêncio. Sem muita propaganda”, revela o segredo. Segundo Valdo, as pessoas que raciocinam muito antes de dar um passo viverão suas vidas sobre uma perna. “Não dê muitos ouvidos as coisas que dizem, porque senão você não sai de casa”, filosofa.
Embora tenha pedido afastamento do sacerdócio, Valdo jamais abandonou sua fé. Prova desta identificação foi a Caminhada da Fé em 2004, trilha feita pelo ex-padre, que percorreu a pé, quase 500 quilômetros.
Para o final deste ano, Valdo prepara sua maior viagem. Ele vai percorrer cerca de 40 mil quilômetros para dar a volta ao mundo. “Vou descansar uns dois meses, e então passo a me dedicar para o projeto “Volta ao Mundo de Bicicleta”, antecipa.
O ex-padre conhece 28 países, fala português, espanhol, italiano e inglês, conhece a língua indígena Tukano e duas línguas africanas de Moçambique, Chinhungue e Ronga, mas garante: “o maior prazer de uma viajem é fazer amizade, conhecer pessoas e, de maneira simples e cordial, compartilhar momentos de alegria em diversas comunidades diferentes”.
Para quem quiser acompanhar as aventuras de Valdo, pode acessar o seu site pessoal www.valdonabike.com.



25/07/2008
Gravatal – São Bonifácio
73 km com a velocidade média de 11,63 km/h

Uma noite silenciosa com um sono reparador. Como sempre, a musiquinha chata tocou no mesmo horário; 5:30h.Às sete em ponto já estávamos na estrada. Pedalamos 300 metros e o Lucas se deu conta que tinha esquecido o capacete no camping e voltou para apanhá-lo. 28 km de estrada plana nos levou até São Martinho, depois de passar por Armazém. Em São Martinho tínhamos duas opções. Seguir pela esquerda por uma estrada com seis quilômetros a mais e sempre subindo ou seguir pela direita, passando por Vargem do Centro com duas grandes subidas e o restante bastante plano, segundo informação obtida no posto de gasolina. Optamos pela segunda alternativa. A informação estava correta quanto às duas grande subidas, mas o tal de “bastante plano”não existia. Era uma montanha russa constante, mas sempre subindo. Depois de um certo tempo o Lucas só gemia e dizia que não agüentava mais subir. Eu tentava animá-lo mostrando a beleza da paisagem em cima da montanha,mas não adiantava. Ele não tinha coragem de olhar para trás. Dizia que não valia a pena. Quem é acostumado a pedalar sabe que no final de uma grande subida existe sempre um lindo visual. Para o Lucas, porém, tudo era igual. Só tinha olhos para o cansaço. Pobre garoto.


Foram 34 km quase só de subida numa estrada de piçarra muito bem conservada. Até parecia asfalto, exceto numa descida onde eu e o Lucas derrapamos na areia e não conseguimos para a tempo. Quase consegui parar, mas a roda dianteira virou e eu rolei pelo chão. Levantei, olhei para frente e vi o Lucas parado. Pensei que ele tinha parado para me esperar, mas na realidade ele também tinha caído. Mais adiante ele capotou de novo mas ninguém se machucou. Já eram 16 horas quando chegamos a São Bonifácio, uma simpática cidade encravada no meio das montanhas a 450 metros de altitude. Decidimos acampar ali mesmo. Fomos primeiro até a Delegacia de Polícia mas o oficial estava ausente. Fomos encaminhados para uma área coberta, uma antiga estrebaria que pertencia à Igreja. Fomos falar com o Frei para pedir autorização para acampar. Ele não se opôs, mas achou que o lugar não muito indicado. Sugeriu que acampássemos em baixe de uma platibanda do salão paroquial que fica na praça principal. Agradecemos a “generosa” oferta e acampamos mesmo na estrebaria. Por sorte achamos um chuveiro quente para o banho e tudo ficou resolvido.


O nosso Presépio do Estábulo

Depois do jantar, o Lucas apagou na barraca e eu fui procurar uma Lan House para acessar a Internet. Enviei uma mensagem ao Leite, em Itapema onde pretendíamos chegar no dia seguinte.

Alambique de cachaça



26/07/2008
São Bonifácio – Tijucas
121 km com velocidade média de 15,98 km/h.


Uma noite fria mas sem maiores complicações. Levantamos no horário costumeiro e saímos às 7:20h para enfrentar, de cara, cinco quilômetros de subida, a maior parte empurrando a bicicleta. O asfalto facilitava a pedalada mas tivemos que subir tanto que levamos a manhã inteira para percorrer pouco mais de 30 km de distância. O Lucas se cansou bastante. Ele tem dificuldades de caminhar morro acima empurrando a bicicleta.


Finalmente, depois de muitos dias no meio das montanhas, sentimos o gostinho de pedalar na planície. Em Águas Mornas entramos na planície. Que bom poder pedalar acima dos 20 km/h. Para o Lucas era a primeira experiência. Agora vinha o desafio de aprender a pedalar na cadência para conseguir resistência.. No começo ele reclamava de uma dor no joelho e mais tarde reclamava de dor nas costas. Quando faltavam 10 km para a parada, o Lucas desceu da bicicleta e parou. Disse que não agüentava mais pedalar. Ainda bem que já estávamos no final da jornada. Acampamos nos Bombeiros de Tijucas onde tivemos uma excelente acolhida acompanhada de um delicioso jantar.


Deixo aqui registrado o meu sincero agradecimento ao Corpo de Bombeiros das três cidades onde nos hospedamos: São Francisco de Paula RS, São Joaquim SC e Tijucas SC. Nos três lugares fomos tratados com respeito e carinho por parte dos Bombeiros. Valeu mesmo! Muito obrigado!

27/07/2008
Tijucas – Joinville
136 km com velocidade média de 17.879 km/h


Esta foi a maior distância que pedalamos. Foram 7:37h em cima da bicicleta. No início pensamos em pedalar somente até Itajaí onde eu passaria a noite e o Lucas seria resgatado pelo Pai. Depois de ponderarmos bem decidimos levantar cedo e seguir até onde fosse possível. Se ele não agüentasse, era só ligar para casa e pronto. Era o último desafio e valia a pena tentar. É muito gratificante quando a gente consegue superar os próprios limites. O Lucas se animou, mas duvidava que fosse capaz. Vamos tentar, disse-lhe eu. A proposta era manter uma velocidade média em torno dos 20 km/h. Não é nada fácil manter esta velocidade com a bicicleta carregada durante muito tempo. Mas como nós só pedalamos uma hora por vez valia a pena tentar. Depois de cada parada, ele saia na frente e pedalava a 24 ou 25 km/h. Eu seguia atrás mantendo um ritmo mais suave. Esta garra durava em torno de 15 minutos e ele começava a diminuir a velocidade até que eu passasse. Daí para frente ele procurava me acompanhar. E conseguiu. Ao chegarmos na curva do arroz, pegamos o contorno. Fizemos a última parada. Parecia mentira que já estávamos ali. Eram 15 horas. O Lucas estava cansado, com vontade de telefonar para o Pai. Coragem, dizia-lhe eu. Agora falta muito pouco. Só mais alguns minutos. Pouco a pouco fomos vencendo os últimos quilômetros e quando menos esperava, já estávamos no portão da casa dele. Ele resolveu fazer uma surpresa para o Pai. Telefonou do portão para dizer que estava em Barra Velha e precisava de resgate. Mas infelizmente quem atendeu foi o irmão Mateus que estava em casa sozinho. Os pais tinham saído para fazer compra para o jantar que iam preparar para nós. O relógio marcava 16 horas.


Deixei o Lucas e pedalei para a minha casa. 10 km n os separava. Depois do banho teria que fazer mais 20 km de ida e volta. Depois do banho tive que atender a uma sobrinha que estava de visita e só fiquei livre às 19 horas. Um pouco de cansaço unido à preguiça fez com que eu telefonasse para avisar que não iria participar do jantar. Mas não adiantou. O Valdecir, pai do Lucas, veio me buscar de carro. Valeu a pena ter ido. Foi um jantar muito animado onde revivemos toda a nossa aventura com os familiares. Quando voltei para casa já era quase meia noite.


Resumo da viagem.

Uma bela experiência. Grau de dificuldade elevado devido ao tipo de terreno. Conheci duas famílias maravilhosas. A do Leonardo em Nova Petrópolis e a do Marcos em São José dos Ausentes. Voltei mais enriquecido com estas novas amizades.

A Cruzbike se comportou muito bem. Cada vez me convenço mais da facilidade de pedalar com ela. O conforto é muito grande e vale a pena apostar nela na volta ao mundo. Apenas a carretinha se mostrou um pouco pesada nas subidas. Espero resolver este problema com a carenagem que deve ficar pronta em breve.
Cada viagem é única. Sempre temos coisas novas para aprender.
Este roteiro é difícil, mas vale a pena ser feito. Quem tiver tempo e coragem, faça-o. Não vai se arrepender.

Joinville, 28 de julho de 2008.

04 julho 2008

Nascimento da Carenagem da Cruzbike

O nascimento da carenagem da Cruzbike está sento um parto bastante difícil. Como estamos partindo do Zero, o Janderson tem que usar toda a imaginação para fazer a carenagem.
Após duas semanas de trabalho já se pode ver alguma coisa.
O bom é que vai ser fácil desmontar a carenagem para transportar a bicicleta. Também vai ficar fácil removê-la para fazer pequenas viagens onde não é preciso transportar nada. O único problema que vejo é o aumento do peso na bicicleta. Mas este é um preço que tenho que pagar para ter facilidade no transporte das minhas coisas.
Seguem algumas fotos.




26 maio 2008

Ceará - Piauí - Maranhão


Hora da partida, despedida da minha irmã Ivone.



Saí de Joinville no dia 5 de abril às 21:45h e cheguei a São Paulo às 6 horas da manhã. Às 9 horas embarquei no ônibus da Contijo para Fortaleza, mas antes tive que pagar R$ 60,00 pelo transporte da bicicleta. Um abuso, pois a bicicleta estava dentro de uma mala bike e eu tinha direito a 30 kg de bagagem e mais a bagagem de mão. O ônibus era confortável mas não havia água para beber. O banheiro já saiu sujo de São Paulo e durante a viagem ficou sem água. No terceiro dia jogaram um balde de água para eliminar o mau cheiro. Ainda bem que só havia 21 passageiros e quase todos usavam o banheiro nas paradas.
A viagem foi tranqüila. Pegamos chuva fina nas serras mineiras e chuva forte nos últimos 100 km antes de chegar a Fortaleza onde encontramos uns tímidos raios de sol a nos dar as boas vindas. Deixamos os 23 graus do ar condicionado do ônibus e sentimos o impacto do calor nordestino.
Cheguei a Fortaleza no dia 8 às 15:15h. Descontado as 3 horas de troca de ônibus em São Paulo foram 62:30h dentro do ônibus.
Como estamos na época das chuvas, o sertão está todo verde com muita água por todos os lados.
Uma menina de uns 5 anos que viajava com a mãe e um irmão maior cismou que eu era o papai noel. Cantava cantigas de papai noel e se aproximava de mim para que eu a acariciasse. Certamente irá contar para suas amiguinhas eu viu o papai noel.
Quando comecei a montar a cruzbike na área de embarque da rodoviária já começaram a aparecer os primeiros curiosos. No início eram os carregadores e depois os funcionários. Era interessante ver a reação das pessoas. Na parte superior da rodoviária onde fui marcar a passagem de volta vieram vários curiosos para ver como é que eu ia pedalar. Alguns queriam saber se tinha sido eu a inventar a bicicleta. Um deles me perguntou se eu também fazia triciclos. Quando eu montei na bicicleta para pedalar, estava rodeado de curiosos.

Pe. Amadeu de 82 anos testando a Cruzbike.



Pedalei até o Colégio Dom Bosco onde fui recebido com muita admiração e carinho pelo Pe. Orsini, diretor do colégio. Mais tarde encontrei o Pe. Aristides e o Pe. Amadeu, este último com 82 anos e muito bem conservado. Depois de ouvir a minha história e viajar pelo álbum de fotos que levo comigo, disseram que é preciso muita coragem para fazer o que eu faço.

No dia 9 de manhã saí a pé para conhecer o centro e fazer as compras para a viagem.
Entre outras coisas comprei um mapa do Estado do Ceará com o mapa da cidade de Fortaleza. Na parte da tarde fiz outra caminhada por uma rua diferente em direção à praia Iracema.Fiquei um pouco decepcionado pois esperava mais da praia. Na volta fui ao Supermercado e fiz a compra da comida. O problema agora era como fazer para levar tanta coisa em tão pouco espaço. Como faz falta a minha carretinha.

No dia 10 peguei a cruzbike e fiz o meu primeiro passeio de 29 km. Fui conhecer a praia do Futuro. Fiquei encantado com o que vi.Centenas de chapéus de palha espalhados ao longo da orla. Na beira da estrada estão os restaurantes que se estendem para a praia onde estão os chapéus de palha com mesas, cadeiras e um garção para servir. Lembrou-me um pouco o estilo das praias italianas na costa lígure. A praia em si não é muito boa pois este em mar aberto sem nenhuma enseada, mas mesmo assim é interessante.
Aproveitei para fazer o teste de pedalar pela praia. A primeira experiência foi um desastre. No começo não consegui pedalar. A roda da bicicleta afundava na areia. Depois de uma centena de metros a areia melhorou e consegui pedalar 500 metros a uma velocidade de 8 a 10 km/h. O problema era a areia que ia toda para a cassete e a corrente começava a ranger. Desisti da experiência e resolvi mudar o meu roteiro. Pedalar pela praia somente onde não houver outra alternativa. Como a roda dianteira da cruzbike recebe muito peso, fica difícil pedalar pela areia.
Na volta para casa, parei para pedir informação. O jovem que me indicou uma ciclovia que me levaria ao centro da cidade,olhou para o meu braço e disse que eu tirasse o relógio do pulso porque há muitos ladrões nas esquinas. Tirei o relógio e coloquei no bolsa da bermuda. Aí não, disse-me ele porque eles olham no bolso. Eu deveria colocar o relógio dentro da cueca. Assim o fiz. Mais adiante coloquei também a carteira de dinheiro dentro da cueca. Normalmente eu uso uma pochete por baixo da camisa.
Segui pela ciclovia até um posto de gasolina onde pedi informação. Eu tinha que atravessar uma avenida bem movimentada e seguir adiante. Desmontei da bicicleta e quando o tráfego diminuiu atravessei o canteiro do meio. O meu relógio caiu no meio da pista. Encostei a bicicleta no meio fio, mas o sinal abriu e os carros começaram a passar numa boa velocidade. Eu olhava o relógio e torcia para que nenhum pneu passasse por cima dele. Depois de alguns minutos de espera, consegui apanhar o relógio e atravessar a outra faixa.

Dia 11. Tudo pronto para iniciar a viagem. Amanheceu chovendo forte e tive que adiar a partida para o dia seguinte. A chuva continuou até as 13 horas. À tarde abri a internet e atualizei os meus e-mails. À noite preparei toda a bagagem e deixei a bicicleta equipada para a partida.


Jangada na praia de taíba CE.


12/04/08 – Fortaleza – Taíba = 80 km em 4:40h.
Acordei às 5:30h.Às 6:40h saí pela portaria do colégio e só então percebi que havia uma chuvinha fina. Mesmo assim, segui adiante. Atravessei a cidade e quando me aproximava da ponte da Barra Ceará a chuva começou a aumentar. Atravessei a ponte em baixo de chuva e parei no pedágio.Tinha pedalado apenas 13 quilômetros, Enquanto eu esperava a chuva parar, apareceram alguns curiosos.Entre eles veio o guarda do pedágio, o Tito que também gosta de pedalar. Depois que eu mostrei o álbum de fotos ele não cansava de me elogiar. Disse que para ele este dia era muito especial pois tinha viajado através das fotos ouvindo o comentário que eu fazia a cada uma delas. Disse que eu deveria usar como lema a formiga que é a maior atleta do mundo. É capaz de transportar um peso muito superior ao peso do próprio corpo.É persistente e tenaz e vence qualquer obstáculo. Disse que as minhas aventuras são como as da formiga.
Já passava das dez horas quando a chuva deu uma aliviada. Tanto o Tito como o Sr. Chico, de 61 anos, me aconselharam a voltar para casa. Diziam que o tempo só ia melhorar no final da tarde. Estive a ponto de desistir, mas resolvi continuar.
Pedalei uma hora e a chuva aumentou outra vez. Parei numa padaria e só reinicie a viagem às 12:30h. O tempo finalmente melhorou e no final da viagem pedalei uma hora com sol.
Depois de pedalar 80 km cheguei à praia de Taíba às 17:10h. Encontrei um cantinho cheio de jangada, reduto dos pescadores. Guardei a bicicleta no Bar das Pedras e armei a barraca no rancho dos pescadores.


Partindo de Taíba


Um pescador, Gilberto, me acompanhou até o local onde estavam guardadas as redes de pesca. Subiu num caixote e arrumou as telhas que estavam um pouco afastadas para que a chuva não caísse em cima de mim. Montei a barraca e tomei um banho delicioso numa torneira pública na beira da praia e aproveitei para lavar a roupa.
Quando eu estava tomando o café, sentado numa jangada em baixo da luz do poste, chegou o Sr. Gilberto para me visitar. Mostrei o álbum de fotos. Ele ficou admirado ao ver como existem tantas coisas bonitas neste nosso mundo.
Ele me alertou para o problema da dengue. Na casa dele só ele escapou até agora.


A Cruzbike pronta para enfrentar a estrada


13/04/08 – Taíba – Barrento = 104 km em 6:18h.

Iniciei a viagem às 17:40h com destino a Ponta do Mundaú. Rumei para Siupé e peguei estrada de piçarra com muitas poças d’água. Atravessei a represa de canoa, ou era uma balsa empurrada com uma vara? Depois peguei vários quilômetros de calçamento onde era um tormento pedalar. Durante a viagem, em conversa com os nativos, resolvi mudar a rota. A enchente arrastou algumas pontes e algumas estradas chamadas aqui de carroçal estavam com muita água e lama. Dirigia-me a Lagoinha, no litoral, mas me convenceram a fazer mais uma alteração no roteiro. Destas vez rumei para o centro enfrentando o cerrado e o sertão até Itapipoca. Antes do meio dia tive que parar mais uma hora por causa da chuva forte e depois pedalei até às 14:30h com chuva fina. Finalmente o sol apareceu. Quando cheguei em Barrento já era 16:50h. Barrento é pequena. Só tem uma rua que corta a cidade. Pedi informação no centro para saber onde poderia armar a minha barraca. Indicaram-me o posto policial. Fui muito bem recebido. Além de achar um lugar seguro para a bicicleta ainda consegui um gancho para armar a rede e um chuveiro para o banho.
Ao chegar ao posto policial, antes de dizer o que eu queria, mostrei a minha cruzbike carregada. As portas logo se abriram. Os dois policiais ficaram impressionados com o meu álbum de fotos. Às 18:30h os dois saíram de moto e eu fiquei sozinho. Às 19 horas a luz foi embora. Eles voltaram às 10>20h, acenderam duas velas e saíram de novo. Voltaram às 21 horas. Eu já tinha feito o meu jantar. Armei a rede na sala de entrada, deitei e os dois sentaram-se e começamos a conversar. No início foi sobre o álbum de fotos mas depois de eu me identificar, a conversa tomou outro rumo. Foi umpapo muito proveitoso.Às 22 horas eles foram dormir e eu que já estava na rede me ajeitei para o merecido descanso. Não demorou muito para eu receber a visita das “muriçocas”. Entrei no saco de dormir. Resolvi o problema das pernas e dos braços mas a música na orelha continuou. Depois de muito apanhar na cara para tentar matar os invasores, fiz o que deveria ter feito desde o início. Tirei a rede e armei a barraca só com a parte do mosquiteiro. Resolvi o problema. Só acordei às 6 horas com o barulho dos dois policiais que já estavam de pé.


14/04/08 Barrento – Nascente = 74 km em 4:10h.

Iniciei a viagem às 7:15h. A primeira etapa era alcançar Itapipoca onde cheguei às 0 horas. Procurei uma oficina de bicicleta e troquei as borrachas de freio da roda traseira. A cidade é cheia de ciclistas de todas as idades. Na rua de acesso à cidade havia uma oficina de bicicleta a cada 50 metros. A cidade está aos pés da serra.
Eu estava com um pouco de preguiça e às 14 horas cheguei a um posto de gasolina num lugar chamado Nascente. Fui muito bem recebido. Ainda antes de descer da bicicleta a dona Socorro me ofereceu um delicioso cafezinho. Disponibilizou-me uma área coberta para eu armar a barraca. Tomei um banho, lavei a roupa, tomei café e então mostrei o meu álbum de fotos. O álbum passou de mão em mão e ouvi os mais variados comentários. Um frentista fez questão de tirar uma foto comigo. Queria guardar uma recordação ao lado de um senhor que viaja o mundo de bicicleta. Anotei o endereço dele para enviar as fotos quando eu chegar em casa.
A foto que causou mais admiração foi a do “Fin del Mundo” no Ushuaia, Argentina. Um senhor disse para a esposa.
- Está vendo? Você disse que não existe o fim do mundo. Este senhor já esteve lá.
E mostrou a foto a ela.
Outra coisa que chamou a atenção deles foi ver como eu aquecia a água numa garrafa usando um “rabo quente”.
Depois de eu bater a foto com o Odair, o frentista, três pessoas tentaram pedalar na cruzbike. Eram os mais corajosos. Nem todos se arriscam a montar numa coisa tão estranha.
É muito bom a gente parar cedo. Tem tempo para muita coisa.

15/04/08 Nascente – Acaraú = 88 km em 5 horas.O lugar onde eu dormi teria sido excelente se não houvesse tanto barulho. Como o posto é 24 horas a cada momento parava um caminhão para me acordar.
Às 4:30h começou a monótona sinfonia dos pardais com um barulho insuportável. Mesmo assim conseguir dormir até às 5:30h.
Como a próxima etapa era relativamente curta, aproveitei para conhecer algumas praias. Ao chegar em Itarema tomei uma água de coco gelada, saboreei dois picolés e rumei para conhecer as praias Mulheres de Areia; Guariju; Farol de Itapajé e Volta do Rio onde fui acolhido com muito carinho pelo Sr. Sarado que estava deitado numa rede pendurada numa árvore à beira da estrada do Pau. Eu tinha passado ser ver o Farol. Ele me aconselhou a voltar, pouco mais de um quilômetro, para fotografar o farol e conhecer a praia. Convidou-me para almoçar com ele na volta. Visitei a praia e fotografei o farol. As praias daqui são muito diferentes das praias catarinenses.


Almoço delicioso na frente da casa do Sr. Sarado


Voltei à casa do Sr. Sarado e qual não foi a minha surpresa ao ver que todos comiam com o prato na mão sentados em bancos construídos na calçada.A sombra da árvore e a brisa suave tornava o lugar muito agradável. Não demorou muito e veio o meu almoço. Arroz, feijão, pirão (uma delícia) e duas postas de peixe. Só consegui comer uma. No final ainda me serviram uma deliciosa sobremesa gelada. Não sei o que foi que eles viram em mim. O fato é que fiquei imensamente agradecido. É claro que depois de todas estas delicadezas mostrei o meu álbum de fotos que sempre faz muito sucesso.
Seguindo depois para Acaraú, fui acompanhado por dois ciclistas.O mais velho tinha 55 anos e o outro 30. Pedalamos juntos uns quatro quilômetros e chegamos em Jurutianha. O mais velho foi até uma oficina e voltou com um mecânico.Queria que ele copiasse o modelo para fazer uma bicicleta igual à minha. O mecânico que era um adolescente disse logo que não ia conseguir fazer algo parecido.
Cheguei a Acaraú às 15:30h e depois de uma pedalada pela cidade, comprei pão e segui até a saída da cidade onde acampei num posto de gasolina.



16/04/08 Acaraú – Jericoacoara – 61 km em 4:40h
O lugar onde acampei foi tranqüilo. Coloquei a cruzbike dentro de uma área coberta onde também dormiu um dos funcionários do posto numa rede.
Segui rumo a Jijoca de Jericoacoara ou será Gijoca? Cada placa na estrada usa uma grafia diferente.
Deixei a estrada asfaltada e entrei numa estrada de piçarra até Preá. Parei na praça principal para uma pequena conversa. Um senhor se aproximou de mim e perguntou se eu costumo dar entrevistas nas rádios. Eu respondei que não procuro, mas quando me convidam eu faço a entrevista. Já fiz entrevista em Ponta Porá MS, Na Argentina em Rio Gallegos e no norte; no Paraguai, em Joinville, etc. Foi então que o homem me disse:
- Eu tenho um programa na rádio. Vamos lá em casa tomar um café e gravamos a entrevista.
- Vamos, disse eu.
Cheguei na casa do Dr. Antônio dos Santos de Oliveira Lima, conhecido como Dr. Lima. É engenheiro agrônomo desempregado e tem um programa na cidade de Cruz na Rádio FM Comunitária 98,7 MHZ. Programa a Comunidade e o Cidadão. Gravamos a entrevista que me pareceu um pouco longa. Depois o Dr. Lima viajou pelas minhas fotos e ainda fez questão que eu almoçasse com ele.


Dr. Lima experimenta a Cruzbike


Na praça os moradores tinham dito que amare estava baixa e que era possível pedalar pela praia. Consultei a tábua de maré e vi que a maré baixa só ia acontecer no final da tarde. Resolvi pegar a trilha dos bugues. Estava meio apreensivo pois teria que enfrentar 12 km de areia. Para minha alegria os primeiros seis quilômetros foram ótimos. Depois peguei areia solta e tive que empurrar a bicicleta.

Jangadeiro voltando da pesca


Cheguei numa bifurcação e uma placa indicava:
- Pedra furada 1,5 km
- Jericoacoara 3,8 km
Parei, refleti e decidi seguir adiante para conhecer a pedra furada. Empurrei a bicicleta por 1500 metros até chegar no fim da estrada. Daí para frente eu teria que seguir a trilha ladeira a baixo até chegar na praia. A minha intenção era tirar uma foto com a cruzbike na frente da pedra furada. Cheguei até o local onde eu pesava que fosse a pedra furada. Mas não era a pedra furada e sim a pedra do frade.


Pedra do Frade. Até aí eu cheguei com a Cruzbike


Se já tinha sido muito difícil chegar até ali, continuar a viagem coma bike era quase impossível. Deixei a bicicleta no chão e segui adiante por mais dez minutos até chegar a pedra furada. Na volta eu estava com sede e a água estava no fim. Um filete de água escorria do Serrote. Experimentei e vi que não tão ruim assim. Matei a sede, mas no dia seguinte senti o efeito com uma pequena disenteria.


A Pedra Furada de Jericoacaoroa


O difícil foi empurrar a bicicleta morro acima. Eu tinha que levantar a roda dianteira e empurrar a bicicleta pela areia fofa. Contava trinta passos e parava para tomar fôlego. Esta técnica sempre funciona. Se eu olhasse para cima e pensasse que teria que empurrar mais de 40 kg morro acima eu teria desanimado.Mas fazer apenas 30 passos e descansar era muito mais fácil. Um pedacinho de cada vez.
Ao chegar ao topo da colina encontrei um Bugue que tinha acabado de chegar com quatro turistas italianos que iriam voltar a pé pelo morro.


Praia de Jericoacaoroa


O Zé do Bugue me ofereceu uma carona. Tirei as duas rodas da bike e a amarramos no bugue. Eu tinha pendurado as minhas sandálias no Bar End e me esqueci de tira-la. Ao chegar em Jeri só encontrei um pé da sandália. O Zé foi tão legal comigo que quando eu estava falando com a Roberta que ia me hospedar, ele apareceu lá com uma bicicleta e me entregou o outro pé da sandália.. Ele tinha voltado ao local de embarque da bicicleta para buscar a sandália para mim. Foi muito lindo o gesto dele.
Em seguida um jovem me acompanhou até a casa da Roberta que mora com a Paula e a Taciana. Recebi uma cópia da casa e fiquei muito a vontade.

O Parque Nacional de Jericoacoara foi criado em fevereiro de 2002 a partir da recategorização parcial da Área de Proteção Ambiental criada em 1984 e teve seus limites redefinidos em junho de 2007. Tem como objetivo proteger amostras dos ecossistemas costeiros, assegurar a preservação de seus recursos naturais e proporcionar pesquisas científica, educação e interpretação ambiental e turismo ecológico.

Nesta época do ano, estamos na metade de abril, chove muito. As lagoas estão todas cheias e a vegetação é exuberante. Verde por todos os lados. Um diferencial do lugar é que durante oito meses o sol se põe no mar. Para nós sulistas que estamos acostumados a ver o sol nascer no mar, este detalhe chama muito a atenção.
As ruas da vila são todas de areia. Algumas até parecem dunas. É quase impossível pedalar na cidade.Neste período de baixa estação é um sossego total.

Potencial turístico.
O Parque possui diversos atrativos que são visitados por um grande número de turistas. Dentre eles destacamos:
- A Pedra Furada, formação rochosa considerada um ícone de Jericoacoara e que é divulgada como uma das principais paisagens do Parque Nacional.
- O Serrote, formação rochosa que se eleva ao nordeste da vila de Jericoacoara e apresenta o ponto culminante do Parque Nacional, onde está localizado o farol a uma altitude de 95 metros.
- O Campo de Dunas, uma visão impressionante que se estende por quase toda a extensão do Parque Nacional, com destaque para a “Duna do Por do Sol” de onde se pode acompanhar o pôr do sol no mar.
- Passeio ecológico nos manguezais, onde se visualiza cavalos marinhos em seu habitat natural.
- As lagoas temporárias formam uma atração à parte e são utilizadas para banho e ultimamente para esportes náuticos como Kite Surf.
- As praias são a maior atração do Parque Nacional. Há praias bem freqüentadas, isoladas e locais para prática de esportes náuticos como: Kite Surf, Windsurf e Surf.


Tati, Paulinha, Valdo e Roberta na hora da partida


20/04/08 Jericoacoara – Camocim = 53 km em 5:45h

Passei quatro dias muito interessantes em Jeri. A vontade era ficar mais tempo, mas como ainda tinha muito chão pela frente, o jeito foi reiniciar a viagem rumo a Camocim.
Depois da foto de despedida enfrentei 48 km de praia. Foi uma experiência bonita mas muito cansativa. Nos lugares onde a areia era firme era possível manter uma velocidade de 14 km/h, mas bastava mudar um pouco o tipo de areia para ter que parar. Empurrei a bicicleta durante muitos quilômetros. Havia muitas travessias pequenas durante a viagem e três balsas, sendo a última motorizada, a que leva a Camocim.



Saí de Jericoacoara às 7:45h e cheguei a Tatajuba às 11:30h. Para atravessar o rio com água pelo joelho, fui ajudado por um jovem pois a bicicleta esta muito pesada. Fui a um barzinho para tomar um refrigerante. Uma senhora, dona de uma pousada na lagoa me convidou para passar a noite lá sem pagar nada. Pode tomar banho e dormir de graça, disse ela.n Só vai pagar o que consumir. Era só colocar a bicicleta na D20 e seguir. O marida dela me desaconselhou porque no dia seguinte eu teria que voltar até o lugar onde eu estava e a trilha tem muita areia solta. Agradeci a oferta e fui merendar.


O tempo fechou. Nos quatro dias que passei em Jeri sempre chovia antes do almoço. Já passava do meio dia e o dono do bar olhou para o céu e disse que não ia chover na praia. A chuva ia para a serra, disse ele. Depois de meia hora de espera resolvi seguir viagem. Pedalei cinco minutos e começou a chover. Sorte que havia uma casa com uma varanda onde pude me abrigar. Despencou um verdadeiro toró durante trinta minutos. O céu limpou e eu continuei a viagem em direção à praia. Como a maré estava muito baixa o mar estava muito longe e inúmeras lagoas separavam a trilha da praia. Segui a trilha dos Bugues e depois de uma hora percebi que eu estava indo em direção às dunas. Mudei de direção para chegar ao mar. Eu estava muito longe e havia muitas lagoas. Depois de alguns minutos empurrando a bicicleta, vi passar um carro na beira do mar. Eu estava no caminho certo. Depois de muitas travessias consegui chegar à praia. Ficou mais fácil pedalar, mas não por muito tempo. Decididamente não gostei de pedalar nesta areia. Além de consumir muita energia, as paisagens são monótonas. De um lado o mar e do outro as dunas intermináveis. Por isso ao chegar a Camocim, resolvi abandonar a praia e seguir pelo asfalto até Parnaíba.


Para fazer a travessia pela praia eu baixei a calibragem dos pneus. O pneu traseiro ficou com apenas 11 libras. Isto dá mais estabilidade à bicicleta mas a torna mais pesada. Em Camocim calibrei novo para 60 libras o pneu traseiro e para 35 o dianteiro. Tinha decidido passar a noite numa pousada, mas depois mudei de idéia e pedalei mais quatro quilômetros para fora da cidade até chegar a um posto onde encontrei chuveiro e um lindo chapéu de palha para armar a rede na companhia de três motoristas.


Durante a viagem muitos turistas que passavam nos bugues paravam para me fotografar. Nunca fui tão fotografado como nesta viagem. A Cruzbike faz muito sucesso.

21/04/08 Camocim CE - Parnaíba PI = 132 km em 7:00h

Guardei a bicicleta dentro da lanchonete e armei a rede no chapéu de palha. O ambiente teria sido ótimo se não fosse pela sinfonia constante, durante toda a noite, do meu colega de lado. Ele só conseguia dormir roncando. Mas mesmo assim dormi bem dentro do saco de dormir. De madrugada a temperatura baixou bastante e soprava uma brisa suave, mas bem fria.
Eu tinha combinado com a dona da lanchonete que pegaria a bicicleta às 6 horas da manhã. Levantei às 5:30h. Todas as minhas coisas estavam na bicicleta. Esperei até as 6 horas, 6:15h, 6:30h, 6:45h, 7 horas. Eu já tinha esperado uma hora e ainda não tinha tomado o meu café matinal.Finalmente, às 7:15h apareceu o filho da senhora que me atendeu. Eu delicadamente disse a ele que eu devia ter saído às 6 horas. E ele com a maior calma me respondeu:
- Agora só vai sair às 8 horas. E realmente assim foi.
O dia amanheceu nublado com algumas gotas de chuva, mas quando iniciei a viagem já não chovia. Optei em viajar pelo asfalto, pois a experiência da areia não tinha sido nada animadora. Agora eu estava em terreno conhecido. Com algumas subidas suaves a pedalada foi tranqüila.
Numa das paradas, num posto de gasolina para abastecer de água fresca, um senhor que ia para Teresina com a família estava com panela de jabá com farofa. Depois de fazer as perguntas costumeiras sobre a cruzbike, me ofereceu jabá e farofa. Encheu dois copos de plástico e me entregou. Comprei um litro de refrigerante e fiz um delicioso almoço. Com a barriga cheia continuei a pedalar. Aos poucos senti o efeito da comilança. Uma moleza abateu-se sobre mim. Um banco na sombra de uma árvore serviu para uma curta mas reparadora soneca.
Enquanto eu descansava, passou um ciclista levando um quadro de bicicleta no guidão. Mais adiante eu passei por ele e fui embora. Uma hora depois parei para o costumeiro descanso e oi ciclista me alcançou outra vez. Parou e veio ver de perto a bicicleta. Era o senhor Arimatéia de 61 anos. Ele também ia para Parnaíba e pedalamos dez quilômetros juntos. Ele me levou até a entrada da avenida que me levaria para o Bairro São José onde eu ia me hospedar. Ao se despedir ele me disse:
- Abaixa a cabeça e vai em frente até o fim da rua e depois vire à esquerda.
Encontrei a casa do Francinaro e fui recebido pelo pai dele o Sr. Francisco que me acolheu com um largo sorriso no rosto. Logo veio a esposa, dona Marai de Lurdes e depois conheci dois filhos, Yonara e Lucinaro. O Francinaro estava fora e só o conheci mais tarde. Senti-me logo em casa. Guardei a bicicleta dentro de casa, tomei banho e participei de um delicioso jantar com churrasco preparado pelo Francinaro.

22/04/08 Parnaíba PI

Saí de carro com o Francinaro para fazer uma caminhada pelas dunas do porto dos Tatus. Caminhamos dez quilômetros pelo meio das dunas com muitas lagoas. Um passeio muito bonito para ser feito a pé. A cruzbike aqui, nem pensar. Teria sido impossível subir as enormes dunas de areia solta empurrando uma bicicleta com 40 kg de peso. Visitamos também a praia do sal e voltamos para o almoço às 15 horas.


Dunas no Piaui, perto de Paranaíba



No final da caminhada vi que as solas da minha sandália tinham se soltado. Eu já tinha colado uma vez, mas não agüentou muito tempo. Foi por isso que eu trouxe também um par de tênis de reserva. No final da tarde fui ao sapateiro e ele disse que ia colar e costurar mas que só ia ficar pronta para o final do dia seguinte. Confesso que fiquei contente pois assim eu tinha um bom motivo para ficar mais um dia na companhia dessa família maravilhosa. No final da tarde aproveitei para atualizar o meu correio e o Orkut.


Dunas no Piaui, Ferancinaro e Valdo



Parnaóba - Piaui, Praia do Sal


24/04/08 Parnaíba PI – Tutoia MA = 125 km em 7 horas.

Saí de Parnaíba as 7 horas, depois de tomar café com cuscus. Na hora da despedida dei um forte abraço, sincero, em cada um deles. Fui tratado com muito carinho por todos. Talvez por eles ter sabido que eu tinha exercido o ministério sacerdotal por muitos anos e por eles serem uma família católica praticante. Ou então porque esta família, como as demais que conheci por aqui, tem um espírito muito hospitaleiro. Vou levar na mente e no coração a lembrança carinhosa de todos.


Lucinario testando a Cruzbike


O dia amanheceu com céu aberto e o sol começou a esquentar bem cedo. Eu já estava preparado para partir quando o Lucinaro perguntou se eu não ia passar o protetor solar. Em vez de passar o protetor, troquei de camisa. Vesti uma de manga comprida que ganhei do Faccim e que protege até 98% dos raios UV. Esta camisa é feita com um tecido especial um pouco mais grosso que a camisa comum de ciclismo, mas da uma sensação de frescor muito confortável. Acertei e vesti-la pois o sol castigou forte o dia inteiro. Às 10:50h parei num barzinho de beira de estrada para tomar um refrigerante e merendar. O proprietário, um senhor de 76 anos, ao ver a bicicleta arregalou os olhos. Eu perguntei em tom de brincadeira:
- Ué, o senhor nunca viu uma bicicleta?
- Desse jeito não, disse ele.
Conversamos bastante e no final ele me perguntou:
- Não quer esperar um pouco para comer feijão?
Olhei o relógio e eram 11:10h. Agradeci o convite e segui adiante.



Às 12:30h parei num bar desativado. Havia uma grande varanda e um senhor estava sentado na mureta. Fui até o outro lado da casa e achei água gelada. Que delícia. O sol estava muito forte. Depois de comer, estendi o isolante térmico no chão e dormi até as 13:30h.



O asfalto no estado Piauí parecia um tapete, mas ao atravessar a divisa de estado e entrar no Maranhão a coisa mudou. A estrada tinha 40% de asfalto e o restante de buraco e piçarra. Em muitos lugares as máquinas arrancaram o que sobrou do asfalto e ficou melhor, mas na maior parte é uma mistura de pedaços de asfaltos e buracos. Nos últimos 44 quilômetros, quando virei em direção a Tutoia o asfalto melhorou um pouco, mas em compensação começou uma seqüência interminável de subidas e descidas. Cheguei a Totoia depois das 17 horas. A min há intenção era dormir na beira da praia. Parei num posto de gasolina a quatro quilômetros do centro e o frentista me indicou um galpão onde os caminhoneiros passam a noite. Decidi ficar por ali mesmo.


Matando a sede durante a viagem


25/04/08 - Totoia – Paulino Neves = 35 km em 3 horas.
Uma noite um pouco agitada. Havia quatro redes e a minha barraca. O ambiente era tranqüilo e muito calmo. De vez em quando se ouvia alguém roncar na rede.Mas a calmaria não durou muito. Às duas horas da madrugada a família que morava ao lado da área coberta onde nós estávamos começou a armar o barraco.Briga de marido e mulher. Havia um terceiro personagem que estava sendo interrogado e logo começou a baixaria. O marido gritava feito um condenado e batia na mesa. A mulher tentava se defender das acusações mas a voz dela era abafada pelos berros do marido. Às 3 horas o terceiro personagem foi embora, mas a baixaria continuou. Às 5 horas entrou outra mulher no interrogatório mas se recusou a responder as perguntas e foi embora. Os dois resolveram se separar e às 6 horas finalmente houve silêncio, mas eu já estava de pé.



Já passava das sete horas quando iniciei a pedalada. Foram 32 km de pura areia. Com uma velocidade média de 9,3 km/h gastei mais de três horas para percorrer 35 km. Um terço da viagem fiz empurrando a bicicleta. O sol estava abrasador. Nunca tomei tanta água como neste trecho da viagem. Cheguei a Paulino Neves logo depois de meio dia. Atravessei a ponte e cheguei à praça de onde saem os carros para Barreirinha, mas o último carro já tinha partido. Fui informado de que havia um carro que ia a Barreirinha buscar uma mobília. Falei com o dono do veículo, um Bandeirante com tração nas quatro rodas, e combinei o preço por R$ 15,00. Ainda deu tempo de almoçar num restaurante na praça.


Rio Preguiça. Travessia de balsa para ir aos Lençóis


Foi a viagem mais louca que já fiz. Como dizem os garotos, foi muito irado. O carro seguiu por uma trilha pelo meio do pasto passando por dentro de inúmeras lagoas.


Subindo as dunas para entrar nos Lençóis


Havia ovelhas por todos os lados além de vacas e jegues. E lá íamos nós pulando como cabritos. Não demorou muito e entramos no meio das dunas. Uma coisa nunca vista.

Algumas dunas só eram vencidas depois de duas ou três tentativas. Outras tinhamquer ser contornadas passando por dentro da lagoa n uma manobra meio arriscada. Depois de vencer as dunas a trilha entra no meio do mato e segue um areão branco no rastro de outros carros que por ali passaram. Só esta travessia já valeu a viagem.

Em Barreirinha encontrei a Pousada Terral, um ambiente bom. É o lugar preferido dos vendedores. O preço? R$ 10,00 a diária com café da manhã no restaurante. Paguei logo duas diárias. Depois do banho saí a procura de uma excursão para conhecer os famosos Lençóis Maranhenses. Eu queria fazer uma caminhada de um dia, mas não encontrei um guia disponível para este tipo de aventura. Eles fazem travessias maiores a R$ 100,00 por dia. Mas agora está fora da temporada. O jeito foi participar de uma excursão de cinco horas.
Às 9 horas da manhã um Bandeirante com dez turistas a bordo encostou na Pousada para me apanhar. Havia um turista italiano, um americano e os demais eram brasileiros de Curitiba, Campinas e Rio. Fomos conhecer a Lagoa Bonita dentro das dunas dos Lençóis. Foram 18 km de trilha com muita água e areia solta sempre pelo meio do mato.





Para entrar nas dunas é preciso subir uma ladeira de areia de quase 40 metros de altura. Ao chegar em cima deslumbra-se um panorama inesquecível. Aproveitei para fazer uma corrida junto com um até a lagoa bonita. A água cristalina estava morna.



Parecia uma piscina com azulejos. Depois do banho, corri ao redor da lagoa. Primeiro sozinho e depois, em outra direção, acompanhado por um italiano e duas cariocas que trotavam bem de vagar.


Chegamos ao topo de uma duna e lá em baixo se via uma lagoa com água transparente. O italiano desceu correndo morro a baixo e mergulhou na água. Eu fui fazer o mesmo, mas depois de alguns passos perdi o equilíbrio e fui rolando até a água. Quando levantei, olhei para cima e vi o céu dando voltas. Foi muito interessante. Parece que eu voltei para a minha infância. Subi de novo e desta vez consegui descer correndo sem cair. No total foram duas horas bem aproveitadas nas dunas. Valeu cada segundo. Adorei.



À tarde abri o correio eletrônico e participei da missa vespertina. Ao chegar à pousada, um pouco antes das 20 horas, conversei com dois caixeiros viajantes. Eles me desaconselharam a ir até São Luis. Disseram que não valia a pena. Foi então que descobri que havia um ônibus que saia as 5:30h para Urbano Santos. Um percurso de 90 km de areia e muitas lagoas. Se eu fizesse esta travessia iria ter uma economia de quase 500 km. Saí apressado até a agência e encontrei o motorista. Ele sugeriu que eu preparasse a bicicleta e deixasse ali na agência. Voltei à pousada. Preparei asa coisas e voltei até a agência. Desmontei a bicicleta e coloquei dentro da mala bike. Voltei à pousada e só então tive tempo de comer alguma coisa.
Às 4 horas da manhã já estava de pé. Como a estrada tem muitas lagoas, o motorista colocou a bicicleta dentro do ônibus, no primeiro assento. O ônibus demorou quatro horas para percorrer os 90 quilômetros de buracos, água e areia. Encalhou só uma vez, mas os passageiros ajudaram a forrar a estrada com galhos de árvores e fomos embora. Desci na rodoviária de Urbano Santos e montei a bicicleta sob os olhares curiosos de algumas pessoas que queriam ver como é que eu ia pedalar. Abasteci-me de água e segui até o entroncamento da estrada com a BR 222, num lugar chamado Placa.
O dono de uma casa de comércio colocou a bicicleta dentro da loja e me arrumou um lugar dentro de uma sala de aula perto da loja para eu armar a barraca. Tomei banho numa lagoa de água de chuva um pouco além do povoado.

28-04/08 – Placa – Brejo = 115 km em 6:22h.

Acordei às 5:30h e depois de 90 minutos já estava na estrada. Dormi no Brejo depois de pedalar 115 km debaixo de um sol escaldante. Durante a viagem tomei mais de 7 litros de água. Também não era para menos, pois o suor gotejava como se fosse água da chuva.


Parada de ônibus no Maranhão


A primeira parte da viagem foi pelo meio dos coqueiros de babaçu. Uma paisagem linda com as casas de taipa servindo de moldura. Comecei a escolher uma casa típica para fotografar. Encostei a bicicleta num abrigo de ônibus coberto de palha. Fotografei a bicicleta e depois a casa. Não queria chamar a atenção das pessoas, mas não demorou muito e ouvi os meninos dizerem. Ele está fotografando a nossa casa. Enquanto eu merendava apareceu um bando de crianças e um adulto.


A casa do vovô Ricardo no Maranhão


Bati fotos das crianças e apareceu também o vovô Ricardo de 70 anos com problema na coluna e com a vista não muito boa. Convidei-o a sentar-se na cruzbike e bati algumas fotos dele rodeado pelos netos. Conversa vai conversa vem e o vovô Ricardo me convidou para tomar um café. Aceitei o convite. Entrei na casa de taipa com piso de barro e poucos móveis. A dona Maria me serviu café com dois beijus de tapioca. Enquanto eu comia me inteirei da situação da família. Os dois são aposentados mas criam 8 netos e mais um filho inválido que recebeu três tiros no Pará. Como se isso não bastasse, ainda aplicaram um golpe na aposentadoria da dona Maria. Levantaram um empréstimo em nome dela.Ela teve que recorrer ao advogado, mas até agora não conseguiu bloquear o desconto indevido.
Fiquei muito feliz em conhecer esta família típica do campo, mas ao mesmo tempo, revoltado com os maus elementos que existem por todos os lados.
Mais adiante um motorista de uma D20 estava parado esperando para eu passar para me fotografar. Pedalei alguns quilômetros e parei à sombra de uma árvore para merendar. O mesmo motorista de antes parou no outro lado da pista. Era o José Antônio, mineiro de Sete Lagoas, que pediu licença para me fotografar. Mostrei-lhe o álbum de fotos e contei resumidamente a minha história. Ele se mostrou muito admirado das minhas aventuras e disse mais de uma vez que eu era louco. Anotou o meu site e disse que vai ver as fotos na Internet. Faltava poucos quilômetros para chegar ao meu destino e fiz mais uma parada. O sol estava muito forte. Parei num abrigo de palha e coloquei o meu boné em cima do banco. Pensei. Vou esquecer o boné aqui. Como o sol estava muito quente imaginei que se eu saísse sem o boné iria sentir o sol na cabeça. Deixei o boné ali mesmo. Depois de matar a sede e descansar um pouco, continuei a viagem com algumas subidas fortes. Dois quilômetros adiante me dei conta de que eu estava sem o boné. Ao deixar o abrigo o sol estava encoberto pelas nuvens. Não tive coragem de voltar para apanhar o boné. Dali para frente viajei com o chapéu pois o capacete tinha ficado em Joinville.
A reação do povo no Maranhão é igual a outros estados brasileiros. Alguns ficam calados, apenas olham. Outros gritam feito malucos. Alguns em tom de gozação gritam: olha o Papai Noel! Houve até um motorista parado dentro do carro que me olhou e gritou: - Vagabundo. Não entendi muito bem o que foi que ele quis dizer e segui adiante.

29-04-08 – Brejo – Mamorna = 93 km em 5:36h
No posto onde eu dormi encontrei um grupo de vendedores ambulantes vindos do Piauí. Viajam todos numa caminhonete carregada de sacos de roupa. Cada um tem um carrinho de duas rodas, tipo aqueles que se usam nas rodoviárias. Chegam a uma cidade e percorrem todas as ruas. Além de vender o produto eles também deixam o produto em consignação com 30% de desconto e após 90 dias passam de novo para recolher o dinheiro e vender mais. Percorrem o estado do Piauí e do Maranhão. Eles ganham 5% sobre a venda. Passam meses fora de casa dormindo em postos de gasolina. Um deles, o Chico, é o cozinheiro. Fez questão que eu tomasse o café da manhã com eles. Tomei café acompanhado com um prato de cuscus com ovos fritos e cebola. Uma delícia que eu desconhecia. O Chico ainda quis tirar uma foto sentadona cruzbike, pois dizia ele, quando o Valdo aparecer na TV, dando a volta ao mundo, eu quero dizer: - Eu estive sentado naquela bicicleta.


O Chico na cruzbike


O nome da empresa deles é Estrela Moda.
Saí do Brejo às 7:20h. O meu roteiro estava meio confuso. As distâncias no mata não eram muito precisas. O meu destino era Luzilândia e depois Cocal da Estação. Ao chegar a São Bernardo fui informado de que a estrada estava muito alagada e que eu teria muita dificuldade em passar por ali. Teria que fazer 90 km de estrada de chão com muita areia e água. Aconselharam-me a seguir adiante até Buriti dos Lopes a poucos quilômetros de Parnaíba e então rumar para Cocal da Estação e Tianguá. Esta mudança aumenta a quilometragem, mas em compensação a viagem é sempre pelo asfalto.
Pedalei quinze minutos debaixo de uma forte chuva. Até que foi interessante pois a chuva é quente.
Pedalei 93 quilômetros e cheguei num lugarejo chamado Mamorana. Havia um posto com um lindo restaurante numa área coberta,sem paredes e com muitas redes penduradas. É o ponto de encontro dos viajantes. Deixei a bicicleta na parte dos fundos num lugarzinho muito tranqüilo, mas durante o café, na mesa do restaurante me aconselharam a trazer as coisas para frente e armar a barraca no restaurante onde dormem muitos viajantes. Fiz a mudança e a curzbike ficou exposta aos olhos dos curiosos.

30-04-08 – Mamorana MA – Parnaíba PI = 95 km em 5:36h.
O restaurante ficou bem movimentado com motoristas e funcionários do município que jantam ali. O dono do restaurante me convidou par jantar e preparou uma boa porção de arroz com feijão, churrasco e farinha. Não consegui comer todo o arroz.
Antes que o Jornal Nacional terminasse na TV eu já estava dormindo. Às sete horas saí do restaurante e passei no armazém do Sr. Santana, um senhor muito simpático de 66 anos que queria conhecer a cruzbike. Quando ele viu a bicicleta chamou a mulher e os filhos para que eles também admirassem aquela obra de arte.
Iniciei a viagem seguindo em direção a Parnaíba. Tinha que chegar a 15 km da cidade para pegar a estrada para Buriti dos Lopes. Fiz os cálculos e vi que seria difícil pedalar até Canindé e chegar a Fortaleza antes do dia 7 de maio. Depois de muito ponderar decidi seguir direto para Parnaíba e pegar um ônibus para Canindé. Na rodoviária soube que só havia ônibus para Fortaleza e voltar 100 km ou então descer em Sobral e pedalar mais 220 km até Canindé. Optei por Sobral. Marquei a passagem para o dia seguinte às 7:15h da manhã. Com a passagem grátis no bolso, voltei para a casa do Francinaro onde eu tinha me hospedado uma semana antes. Com isso eu economizo 400 km e três dias de viagem.
A família do Francinaro me acolheu com muito carinho como seu já fosse um membro da família.


Maria de Lurdes, Francisco, Valdo e Francinaro



01-05-08 – Parnaíba PI – Sobral CE
Sobral – Taperuaba = 75 km em 4:28h


Cheguei à rodoviária às 6:30h. Demorei 35 minutos para empacotar a bicicleta. Saímos de Sobral às 7:15h e chegamos a Sobral ao meio dia.
Montei a bicicleta, tomei um lanche e peguei a estrada rumo a Canindé, debaixo de um sol escaldante. O termômetro na rua marcava 34 graus.
Eu tinha que vencer mais de 70 km antes do anoitecer. Os primeiros 5 km foram de muitas subidas. Às 15 horas parei num barzinho e fui informado que ainda faltava 50 km para chegar a Taperuaba onde existe um posto de gasolina. Encurtei o tempo de descanso e aumentei o ritmo. Se eu não conseguisse chegar de dia teria que pedir abrigo em alguma casa. Mas no final tudo deu certo. Entrei na cidade quando já começava a escurecer. Comprei mantimento e segui adiante. Já era escuro. Na saída da cidade encontrei o posto de gasolina onde passei a noite.

02-05-08 – Taperuaba – Canindé = 95 km em 6:34h.
Uma etapa relativamente curta mas bastante cansativa por causa das subidas. Aa estrada seguia sempre pelo meio da serra e o asfalto acompanhava o desnível do terreno sem nenhum nivelamento. Resultado, curvas e sobe e desce constantes.


Chegada a Canindé CE


Cheguei a Canindé às 16 horas. Dei uma volta pela cidade até a praça da Basílica e depois fui procurar o abrigo dos romeiros. O local era muito bom e estava totalmente vazio. Consegui um quarto para deixar a bicicleta e assim pude sair sossegado. O encarregado que me recebeu disse:
- Aqui não se paga nada. Tem lugar para armar a rede à vontade.
Perguntei se havia um lugar seguro para guardar a bicicleta. Ele disse que tinha quarto sem cama e o ventilador era asa de muriçoca. Eu pensei que fosse um ventilador de teto com duas pás parecidas com asas de muriçoca. Peguei a chave e me dirigi ao quarto. Abri a porta e vi um espaço vazio com 10 armadores de rede. Imaginei como deveria ficar aquele ambiente nos dias de peregrinação. Só então entendi o significado da asa de muriçoca como ventilador.
O ambiente era muito grande e bem distribuído. Durante os festejos recebe milhares de romeiros. Disse-me o encarregado que chega gente com rede mas não encontra espaço para armá-la pois até as árvores ficam todas ocupadas.



A Basílica de São Francisco de Canindé é a maior igreja dedicado ao santo na América. Confesso que, pela grandiosidade do título, eu esperava algo maior. Mesmo assim é muito bonita. É famosa pelas grandes romarias que acontecem no mês de outubro.




No quarto ao lado onde eu me hospedei estava outro ciclista, o Dedé que fez uma viagem de 220 km em três dias numa barra circular comum. Veio totalmente despreparado carregando duas caixas no bagageiro com uma rede e uma garrafa de 2 litros para água. Disse que passou sede pelo caminho. Veio com dois pneus carecas, sem chave, bomba, câmara ou remendo. No percurso que nós fizemos existem trechos com mais de 30 km de estrada onde não se encontra uma viva alma. Ele disse que vinha torcendo para que não acontecesse nada com a bicicleta. Eu o aconselhei a comprar uma câmara, uma chave para tirar a roda e um kit de remendo para poder viajar mais tranqüilo. Mas ele estava com pouco dinheiro e seguiu adiante assim mesmo.



Passei um final de semana muito bonito. Participei da Eucaristia e conheci os lugares de devoção dos romeiros. No domingo de manhã, depois da missa das 8 horas, subi o morro para conhecer a estátua de São Francisco. Um monumento impressionante em cima de uma colina que domina toda a cidade.




Aproveitei das horas vagas para acessar a Internet e por algumas fotos no Orkut.

05-05-08 – Canindé – Ffortaleza = 128 km em 7:23h
Dormi sozinho no abrigo dos romeiros. Coloquei a barraca no corredor, ao lado da porta do quarto onde estava a bicicleta. Acordei de madrugada e estava tudo escuro. Pensei que tivesse faltado luz mas de manhã o vigia me disse que tinha apagado a luz de madrugada.
Deixei a abrigo às 7 horas não sem antes pagar 3,00 para fazer a cópia da chave que eu tinha quebrado na noite anterior. A minha intenção era chegar a Fortaleza só no dia seguinte. Queria dormir a uns 30 km da cidade. Ao meio dia cheguei ao posto da Polícia Federal e começou a chover. Esperei 35 minutos até a chuva parar. Pensei em acampar ali. Havia um bom lugar e um banheiro. Faltavam 59 km para chegar a Fortaleza e seria uma ótima etapa para chegar de manhã. Como ainda era muito cedo resolvi pedalar mais um pouco. Como eu teria que atravessar toda a cidade, só poderia fazer isto durante o dia.Pelos meus cálculos vi que ia conseguir chegar cedo e toquei adiante. Às 16 horas eu já estava entrando no colégio são e salvo.
Como é bom retornar à casa. Ainda estava a quatro dias de ônibus da minha cidade mas é como se já tivesse chegado lá.

Conclusão
O roteiro original foi modificado devido à dificuldade de pedalar pela praia. Por se inverno havia muitas travessias difíceis de ser feita sobretudo carregando uma bicicleta pesando quase 40 quilos.
Mesmo assim atingi os meus objetivos de conhecer Jericoacoara e os Lençóis Maranhenses. Ainda de quebra tive a oportunidade de passar três dias em Canindé, a terra de São Francisco das Chagas.
A viagem de 1425 km serviu para avaliar a possibilidade de usar a cruzbike para fazer a volta ao mundo. Ainda é preciso fazer algumas alterações até ela ficar como eu quero. Com esta viagem passei dos 5000 km de teste. É uma bicicleta mais pesada e mais difícil de ser conduzida, mas o conforto da dupla suspensão e do assento compensa qualquer esforço.
Ao contrário de uma bicicleta comum, depois de uma pedalada de 150 km com muitas subidas a gente chega ao final do dia inteiro, sem aquele cansaço que se sente na bike comum. O assento confortável com o apoio para a coluna e a posição das pernas levantadas proporcionam um conforto muito bom. O meu guidão em quatro posições para as mãos e isto também ajuda muito no conforto.